sábado, 20 de setembro de 2008

Sucupira, ame-a ou deixe-a

Venturas e desventuras de Zeca Diabo e sua gente na terra de Odorico, o Bem-Amado

Já li este livro mais que uma vez e confesso que o acho fantástico.
A partir da peça “O Bem-Amado” de Dias Gomes, foi feita (para mim) uma das mais geniais e hilariantes telenovelas brasileiras. Na sequela dessa telenovela foi feita ainda uma série de televisão (com os actores da novela original). São desta série os sete contos que integram este livro ameno e alegre, zombeteiro e hilariante que, através da caricatura e da graça, critica a realidade político-social brasileira, dessacralizando mitos, comportamentos e costumes.

Seguem pequenos excertos…


“- Zeca Diabo… - Dirceu se encolhe no banco traseiro do carro que se distancia do Descampado, ainda não refeito do susto – com essa eu não contava.
-Esse cangacista… o padre italiano fez a cabeça dele. – Odorico coloca a gravata, veste o paletó. – Tá repetindo tudo que nem papagaio. E é um papagaísmo que pode alastrar talqualmente uma praga.
- O senhor acha?
-Foi assim que começou a Revolução Francesa. Com uns papagaístas que papagaiavam o que os outros diziam. E foram papagaiando, papagaiando… e deu no que deu.
- Acabaram cortando a cabeça de Luís XVI.
- É… - Odorico passa as mãos no pescoço, como se sentisse o fio da guilhotina – temos que dar um jeito nesse padreco.



- Licença, seu coroné? – Caboré pára na porta da sala de jantar, respeitoso, chapéu na mão, o cano do 38 aparecendo por baixo do paletó-saco. – Seu coroné mandou-me chamar?
- Mandei. – Odorico acaba de descascar um camarão, engole, chupa os dedos, limpa as mãos e a boca num guardanapo. – Reúna toda a rapaziada. Tenho pra você um serviço de profilaxia da peste subversiva.
- Tem o quê? – O jagunço arregala os olhos. – Entendo disso não, seu coroné.
- Entende sim. Entende e é doutor, de anel no dedo e canudo.


- Por esse rápido expositório dos sabidos e acontecidos, o Dr. Delegado pode ver que existem sobejíssimas provas de que esse padre é um subversionista contumaz da ordem política e social. – Odorico quebra o tom com uma inflexão maliciosa. – Noves fora os concernentes à moral pública… Contam-se dele coisas do arco-da-velha.
- É mesmo? O Delegado Pacheco tira os óculos raiban, mostrando os olhos acinzentados e cheios de pornográfico interesse.
- Um debochista praticante e juramentado. Tem que ser expulso do País.”








Podem ler aqui, no outro blog do Cupido.

3 comentários:

saltapocinhas disse...

também adorei esta novela, e não sabia que o livro existia!
podes dizer-me se é recente?

Cláudia Marques disse...

Era nesta telenovela que o prefeito se dirigia ao povo dizendo: "Povo de Tangará..."? Se era essa, lembro-me que era mesmo das + hilariantes que já passaram aqui. O livro infelizmente não conheço, mas pelos excertos deve ser tb bastante interessante.

cupido disse...

saltapocinhas, já comprei o livro há muitos anos, mas penso que quer a peça original, quer esta compilação de estórias ainda existe à venda.
claudia m. , Era "Povo de Sucupira" e a novela era simplesmente hilariante.