Caim, o último livro de José Saramago que tanta poeira tem levantado. Depois da patetice de um senhor ligado à cultura aquando do evangelho segundo Jesus Cristo e que se recusou a enviar a obra nem me lembro para onde, porque ofendia a fé dos católicos, temos agora outro, que de Bruxelas, vem dizer que o Saramago devia renunciar à nacionalidade Portuguesa. Presumo que nem um nem outro tenham lido os livros que os levaram a ter os seus minutos de fama. De qualquer modo isto nem é importante, como não foram importantes as afirmações de José Saramago sobre a bondade ou confiabilidade de Deus nem mesmo as dos representantes da Igreja sobre a honestidade intelectual de Saramago. A Obra é superior a essas “tricas”.
Quando comprei o livro, hesitei entre lê-lo naturalmente, como um outro qualquer romance, ou fazer uma leitura cruzada com a narrativa do Antigo Testamento, nomeadamente do Pentateuco; optei pela primeira.
Saramago está cada vez mais igual a si próprio, ou seja genial; a forma como ele conta a história de Caim, num tempo longo desde a expulsão de Adão e Eva do Jardim do Éden até à chegada da Arca do Noé ao monte Ararat é sublime. São 181 páginas de puro prazer, duma escrita que com o passar do tempo vai precisando de menos palavras para nos transmitir mundos de imagens e pensamentos e que nos leva frequentemente a voltar para trás, para tentar apanhar algo que escapou. E quando se volta a voltar atrás descobrem-se mais coisas que escaparam anteriormente. É maquiavelicamente deliciosa esta escrita…
Deixo um excerto, dos mais marcantes para mim, num diálogo entre Caim e seu filho Isaac, depois de aquele ter desobedecido a Deus, não sacrificando o seu filho, tal como era Seu desejo:
“…Perguntou Isaac, Pai, que mal te fiz eu para teres querido matar-me, a mim que sou o teu único filho, Mal não me fizeste, Isaac, Então porque quiseste cortar-me a garganta como se eu fosse um borrego, perguntou o moço, se não tivesse aparecido aquele homem para segurar-te o braço, que o senhor o cubra de bênçãos, estarias agora a levar um cadáver para casa, A ideia foi do senhor, que queria tirar a prova, A prova de quê, Da minha fé, da minha obediência, E que senhor é esse que ordena a um pai que mate o seu próprio filho, É o senhor que temos, o senhor dos nossos antepassados, o senhor que já cá estava quando nascemos, E se esse senhor tivesse um filho, também o mandaria matar, perguntou Isaac, O futuro o dirá, Então o senhor é capaz de tudo, do bom do mau e do pior, Assim é…” (pag. 85).
Podem ler aqui no blog do Cupido.
domingo, 25 de outubro de 2009
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12 comentários:
Ainda não li, mas estou com bastante curiosidade/vontade de o fazer, ainda mais agora. Quando vi a sugestão, pensei "deve ser do Cupido". Não é por nada, foi só um palpite... :)
Qdo ler venho cá dizer + qualquer coisa.
Cláudia
Polémicas à parte não li o livro e nem sei se o vou ler.
Já não tenho muita paciência para os fantasmas e catarses do Saramago.
Ei,ei,ei, não se atirem a mim! Digo o que penso, também tenho direito.
O homem pode ser um Nobel, com todo o mérito, adoro os seus primeiros livros,mas também se instalou na fórmula do sucesso, de que em equipa vencedora não se mexe.E depois, a sua escrita cansa-me, deve ser da idade! :)
Noémia, tu és gira :))
Eu cá não me atiro a ninguém, mto menos a ti... :)
até num ponto dou-te toda a razão, houve livros dele que eu não consegui ler, pq aquela história da falta de pontuação enerva-me. Mas parece que este não é assim, e pelo que tenho ouvido dizer (escandaleira à parte) parece-me interessante.
tenho mesmo que ler este livro!
polémicas à parte, parece ser bem interessante e divertido!
Ontem publiquei esta sugestão do Cupido e tive pesadelos toda a noite. Acho até que sonhei com o Saramago a cortar-me os pulsos... ele também me deve achar muito má pessoa. Mas estamos quites! Até tenho para mim que já é a Pilar que escreve os livros. Foi um belo golpe publicitário mas acho-o arrogante e mal educado. O título, para mim, nem é sobre Caim, filho de Adão e Eva. É mas é o barulho que o Saramago faz quando lhe dão umas "chicotadas", como os cães... "caim caim" e rabo entre as pernas he he
Agora podem cair-me em cima... já estou habitada aos pesadelos ;)
claudia, só podia ser eu a postar o livro? eheheh :)
noémia, concordo que estou longe de concordar contigo. o saramago pouco precisa de fantasmas e quejandos. escreve divinamente e pronto :)
tatiana, divertido não é, mas tu é que sabes :)
meixita, se a pilar soubesse escrever não tinha casado com o mestre... tu às vezes parece que desligas os neurónios, nina...
btw, este livro é para lá de excelente...
Já estás como ele Cupido, a injuriar quem discorda da sua opinião. Sê mais tolerante... a minha sorte é ter o raio dos neurónios ligados e ter opinião própria pahhh :)
Divinamente não, Cupido, que o homem é ateu e ainda se ofende!
E tens razão, porque há-de precisar de mais fantasmas se já tem tantos e não se livra deles?!:)
Cupido,
Estou com muita curiosidade de ler e gostei muito do excerto que publicaste.
O deputado europeu que sugeriu que fosse retirada a nacionalidade portuguesa a Saramago é tão tacanho que até faz impressão. Está aquilo a representar-nos em Bruxelas!
meixa, eu num injurio ninguém... e tolerante sou eu, pázita, não te crispes :)
noémia, por ele ser ateu é que escreve com inspiração divina aka divinamente... e não me parece que tenha fantasmas nem macaquinhos no sotão. curiosamente, vou vendo que tem muitos detratores, mas isto é mesmo um país pobre de massita cinzenta, que se há-de fazer?
isabel, o excerto é um dos politicamente correctos :)
Não se trata ou não de gostar de Jose saramago (eu não gosto) reconheço o merito ao dito escritor pela forma como anualmente vai entretendo todos aqueles que gostam de o ler. e ainda bem que existem pessoas que gostam de o ler, e que o percebem ou que percebem aquilo que JS realmente pretende transmitir.
deduzo que JS com este caim pretenda passar a mensagem de que Deus não é justo (todos sabemos que não é) como é que acontecem tantas coisas más e Deus permite que continuem a acontecer?
até ai estamos de acordo. não gosto da postura so senhor Saramago, mas tão pouco sou católico ou crente ao ponto de excomungar esse escritor. respeito-o e respeito as opiniões dele, tal como ele deveria respeitar as crenças ou as vontades próprias de cada um. quando na pagina 82 do livro se chama Filho da Puta a Deus, (é estar a por-se a jeito) o que é que Saramago pretende com isto. já que são poucos os que lhe dão crédito então chama a atençao desta maneira. e era esse o seu objectivo, consegiu-o, as vendas dispararam e o senhor Saramago vai para casa todo contente, mas não sem antes dizer: eu não queria ofender ninguém... mas deus é mesmo filho da puta. (calma lá com isto) penso que foi longe de mais.
Saramago é como uma criança pequena, precisa de chamar a atençao, quando não tem a atenção dos outros. (isso é legitimo) mas não tem que ser uma criança mal educada. o prémio Nobel não lhe dá o direito de o fazer desta forma, o prémio nobel, não o torna o supra-sumo da literatura. (coisa que definitamente não é)É ateu como qualquer Comunista assumido como ele é faria, mas não lhe dá o direito de ser mal educado.
no se artigo vejo ainda que existe um pequeno lapso em relação ao facto de o Euro-deputado social-democrata ter convidado o senhor Nobel da literatura a renunciar a cidadania Portuguesa, (foi Saramago por mais que uma vez publicamenteque ameaçou renunciar á nacionalidade) faço minhas as palavras do senhor euro-deputado «Já hoje era tarde»
Todos temos direito a expor os nossos pontos de vista, todos temos direito à diferença, todos temos direito a ter uma opinião contraria a m,aioria, isso é positivo isso é democrático, o que não temos é o direito de maltratar e ofender (e friso mais uma vez, que ´~ao sou religioso) as opiniões fé ou crenças religiosas ou sejam elas quais forem dos outros.
não comprei nem vou comprar este livro, e não tem a ver com a polémica gratuita criada em torno dele, no entanto recomendo-o a todos aqueles que gostam da escrita e dos livros de JS, ainda bem que existem pessoas que gostam da escrita de alguem que alguem que não acredita em Deus de alguém que não acredita na biblia, chamando-lhe inclusive um manual de maus costumes, mas que vai retirar temas acções e personagens desse mesmo manual,criando um universo paralelo, inventando histórias sobre outras histórias, isso não é genialidade é plagio, do mais rasca possivel.
parabens pelo espaço que aqui criou, onde existe a oportunidade de outros comentarem o mesmo assunto, tendo no entanto opiniões divergentes, é assim que vincamos a nossa personalidade e formas de estar na vida. mas sempre tendo em conta que outros podem ter uma opinião diferente e temos de a respeitar.
Nuno Chaves
P.S. irei adicionar o seu espaço ao meu para futuramente poder voltar e para dar a oportunidade a quem não conhece este excelente espaço. ate breve.
Olá.
Estava com muita vontade de ler este livro e agora que li a tua crítica ainda fiquei com mais. Adoro a escrita de Saramago e a forma como consegue dizer tanto de forma tão genialmente irónica.
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