Que Eduardo Lourenço (fez 85 anos no outro dia) é uma das incontornáveis figuras do pensamento Português é um facto indiscutível. O Labirinto da Saudade - Psicanálise Mítica do Destino Português é uma das suas obras mais conhecidas. Quando ontem vi a entrevista que lhe fizeram na dois fui buscar o livro e devo confessar que é uma obra fantástica, de leitura obrigatória.
Informação sobre ele aqui
O tradicional grito de “pouca sorte”
A célebre mentalidade milagreira portuguesa procede desta situação, em si não insólita, mas aberrante pela extensão e o tempo em que se prolongou. O resultado, o imediato gozo que proporciona, independentemente do esforço com que se alcança, equivalem “à graça” ao “milagre” que num segundo restaura a ordem do mundo até aí desfavorável. A imprevidência histórica de que várias vezes demos provas desde Alcácer-Quibir até à Descolonização, a eterna surpresa que sublinha as catástrofes mais evitáveis, o nacional grito de “pouca sorte” com que comentamos os desastres que nós próprios elaborámos por inércia ou confiança infinita nas boas disposições da Providência, são só alguns dos aspectos com que mais brutalmente se manifesta a nossa riquíssima mentalidade de pobres milionários por direito divino. Tutti principi, como na Itália, onde tão comum “commedia dell’ arte” social serve, felizmente, para ninguém se tomar a sério como tal, o que não é o nosso caso, de gente que a bem dizer não visa mesmo “ser rico” responsabilizando-se nessa situação, mas apenas não ser tão pobre como o vizinho e suplantá-lo. É a função e o conteúdo formal da riqueza que importam, não a objectiva e tranquilizante vontade de poderio que ela assegura. O comportamento sinistramente ostentatório e bárbaro que William Beckford notou na nossa aristocracia portuguesa que frequentou, não tinha mais função que a de se extenuar na pantagruélica exibição da sua diferença em relação ao comum povo esfomeado. Essa gente que era a nossa “nobre gente” não celebrava nenhum ritual de posse ou gozo feliz da sua existência, mas afirmava apenas, para o exterior, a satisfação vil de um privilégio. Esta aristocracia não estava em condições mínimas de fazer um uso humano do abuso económico e social que representava. A função de aparato e de aparência esgotava toda a sua realidade por não haver no espaço social português termo algum de comparação que pudesse constituir uma crítica implacável desse estilo de vida sem objecto próprio, pois a Corte, imobilista e grotesca, também o não exemplificava.
Podem ler aqui no blog do Cupido.
3 comentários:
"O Labirinto da Saudade" para mim foi mesmo uma "leitura obrigatória" na Faculdade de Letras, na cadeira "Cultura Portuguesa" (Línguas e Literaturas Modernas). Mas devo dizer que é de facto um livro fascinante, que diz tanto (tantas verdades às vezes duras de ouvir)sobre os portugueses e Portugal. É mesmo de leitura obrigatória, sem dúvida.
Comentário atrasado...
Eu também o li na FAUP, numa disciplina chamada "Antropologia do Espaço" e fiquei fascinado com o personagem.
xiiiiiiiiiiiiiii
vou comentar num post velhooooooooooooooooooooooooooooo
eu li o livro (parte dele) pra uma cadeira de história do iscte (cultura portuguesa contemporanea)
xD
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